Nosso website utiliza cookies para tornar a sua visita mais eficiente. Sem eles algumas áreas como menus, blocos ou slideshows não poderão ser exibidas.
Procurar no Site

Zecke (Holzbock): o temido "carrapato da Alemanha"



A primavera está se despedindo e lá vem ele, o verão. E com ele também os passeios pelas florestas e campos. Aqui e acolá se ouve falar em Zecke, FSME, e um tanto de cuidados que devem ser tomados. Mas o que significa tudo isso? Vamos por partes:


"Zecke" é o carrapato ou carraça é um artrópode da ordem dos ácaros. São ectoparasitas (parasita que vive no exterior do hospedeiro) hematófagos (alimenta-se de sangue), responsáveis pela transmissão de inúmeras doenças em animais e seres humanos. As diversas espécies estão distribuidas por todo o planeta, no campo e na cidade, pois para sobreviver precisa do hospedeiro (animal) de cujo sangue se alimenta. Ao ‘sugar’ o sangue do hospedeiro ele ‘injeta’ vírus, bactérias, protozoários ou riquetsias que causam as doenças em seres humanos e outros animais.

Diagnóstico do parasitismo é fácil: visualização. Procura-se na pele (no corpo, as partes mais atingidas são as dobras do corpo, onde a pele é mais fina) ou na pelagem/plumagem dos animais. Bom indicador é a coceira provocada pela presença do carrapato.O parasita deve ser retirado, tendo-se cuidado em não deixar partes dele grudadas ao corpo do paciente. Exame laboratorial é fundamental. Anticorpos são produzidos ainda na primeira fase.

Doenças causadas no ser humano

1. Encefalite viral (FSME: Frühsommer-Meningoencephalitis / Tick-borne-encephalitis)


É causada pelo vírus FSME (FSMEV) também conhecido como Tick-borne-encephalitis (TBEV). É um Flavavírus. A este grupo pertencem mais de 70 tipos de virus, entre eles os vírus causadores da febre amarela, hepatite C, dengue e encefalite japonesa. Existem duas espécies do FSMEV, a européia e o proveniente da Rússia (Russian-Spring-Summer-Encephalitis-Virus/RSSEV).
Na Europa o principal trasmissor do FSMEV é o carrapato que se contamina em qualquer fase de crescimento (larva, ninfa ou adulto) atraves de sucção do virus de um reservatório (animal ou pessoa contaminada). Basta que o carrapato comece a ‘sugar’ o hospedeiro que ele transmite o vírus. Portanto uma rápida remoção do carrapato ANTES dele começar a sucção é a única forma de garantir de que o vírus ainda não foi inoculado/transmitido.

O vírus também pode ser transmitido por leite cru (não fervido) e derivados lácteos (queijos não pasteurizados), mas estes casos ainda são raros na Alemanha porém comuns na Europa Oriental. Em locais bastante endêmicos calcula-se que cada décima picada de carrapato é infecciosa. Daí o aconselhamento de tomar vacina contra a FSME em locais endêmicos e pessoas que trabalhem diretamente com a mata (Förster) ou com animais (veterinários). De cem a trezentos casos são registrados anualmente. É uma infecção onde uma Meldepflicht*, Infektionsschutzgesetz - IfSG) é obrigatória por parte do médico. Isto é, o médico deve comunicar aos orgãos de saúde competentes cada caso tratado, nome completo e endereço do paciente. O tempo de incubação varia de sete a qutorze dias, em raros casos quatro semanas.
[* obrigatoriedade de informar sobre uma doença aos órgãos oficiais de saúde]


Sintomas

A picada do carrapato é indolor. Após a infecção a doença pode progredir por duas vias:

• Em 70% dos casos o caminho é inaparente, isto é, a doença se desenvolve livre de sintomas. Só se ‘descobre’ a infecção por meio de diagnóstico laboratorial (exame de sangue).

Nos outros 30% dos casos manifestam-se sintomas divididos em dois estágios. Sendo que só ocasionalmente passa-se para o segundo estágio da doença.

1.1 - Estágio 1: Esta fase tem uma duração de três a sete dias e é caracterizada pelo aparecimento de sintomas semelhantes aos da gripe (dores de cabeça e no corpo, febre, tosse). Na maioria dos pacientes a doença termina por aqui.

1.2 - Estágio 2: Em 10% dos casos, após um intervalo de duas semanas, o paciente apresenta o quadro clínico de infecção do sistema nervoso. Dependendo de quais as partes atingidas, tem-se três diagnósticos diferentes.

1.2.1) Meningite (Meningitis)

Sintomas: febre alta, fortes dores de cabeça, náuseas e/ou vômito, tonteira, sensililidade a luz (fotosensibilidade) e a sons, assim como pescoço duro. Raramente alterações cardiovasculares ou pancreatite. Muitas vezes os sintomas desaparecem no prazo de uma a duas semanas.


1.2.2) Meningo-Encefalite (Meningo-Enzephalitis)

Além dos sintomas já descritos acima para a meningite também perdas de memória e o paciente pode entrar em coma. Cãimbras, convulsões e dificuldades de movimentação da musculatura do rosto também podem aparecer. Esta fase pode durar até três semanas.


1.2.3) Meningite-Encefalomielite (Meningitis-Enzephalo-Myelitis)

Aqui somam-se aos outros sintomas uma paralisia dos braços e pernas (semelhante à polio). Esta paralisia pode aparecer rapidamente como também devagar. Esta fase pode durar até dois meses.

 

A doença acomete pacientes de todas as idades. Em crianças ocorrem casos de complicações mais frequentes e idosos podem chegar ao óbito. A taxa de letalidade desta infecção está entre 1 a 2%. Não há necessidade de isolar o paciente já que uma contaminação direta ser humano para ser humano não ocorre.

2. Borreliose ou doença de Lyme (Lyme-Borreliose)

É uma doença causada por bactérias chamadas borrélias (Borrelia burgdorferi) das classe das espiroquetas. O risco de se contaminar com a borrelia é regional e varia bastante. O desenvolvimento da doença é vagaroso. Sintoma típico é o aparecimento de uma vermelhidão, do tamanho da cabeça de um alfinete, no local da picada do carrapato, o Erythema chronicum migrans (ECM). Até a doença comprometer outros orgãos como os olhos, pele, juntas ósseas, coração, meninge e nervos pode demorar dias, meses e anos. Tratando-se corretamente, com antibiótico, raramente deixa sequelas. O diagnóstico é feito pelo histórico (picada, aparecimento do eritrema) e exames laboratorias (determinação dos anticorpos no sangue).

Na Alemanha as regiões endêmicas são os "Mittelgebirgen" (Bayerischen Wald ou Kraichgau) [no Estado de Bayern]. Nestas regiões 20% dos carrapatos estão contaminados. Calcula-se que na Alemanha aparecem 40.000 casos por ano.

Relevo Alemanha

Sintomas

São bastante diversos, tendo em vista que atingem vários orgãos. Podemos dividir a borreliose em três estágios.

2.1 - Estágio1: Após a picada aparece uma macha vermelha, do tamanho da cabeça de um alfinete, no local da picada do carrapato, o Erythema chronicum migrans (ECM). Esta mancha vermelha vai crescendo em volta da picada do carrapato e desaparece em poucos dias. É tão típica a mancha, que muitos médicos já fazem o tratamento com o antibiótico. Este tratamento dura 21 dias e o resultado demora um pouco a aparecer. Porém não se deve confundir o ECM com a macha vermelhinha pequena que ocorre após a picada. Esta última tem ca. 1-2 cm e caracteriza-se por coçeira. Desaparece em 1-2 dias ou no máximo após uma semana. Paralelamente ao ECM aparecem outros sintomas como dor de cabeça e muscular, inchaço linfático e febre. Raramente ocorre a alteração da pele nos lobos da orelha, tornando-os levemente vermelho-azulados.

2.2 - Estágio2: Esta fase ocorre semanas ou meses após a picada. Pode atingir diversos órgãos. Quando atinge as articulações pode ocorrer uma inflamação em uma ou mais articulações (mono- ou oligoartrite), atinge principalmente as articulações do joelho. Atingindo o sistema nervoso ocorre uma inflamação da meninge e da raiz do nervo (meningopolineurite) ou mesmo de um nervo único (neuropatia). Exemplo seria a paralisia do nervo facial cuja caracteristica è o caimento de um canto da boca. Raramente ocorre um comprometimento do coração (perimiocardite) que pode levar a alterações cardiovasculares. Também pode ocorrer comprometimento dos olhos (uveite, papilite).

2.3 - Estágio 3: Aparece três meses ou anos após a picada. Além dos problemas crônicos nas articulações podem aparecer problemas de pele (pele se torna azulada e mais finas nas extremidades, mãos e pés: Akrodermatitis atrophicans). Dores nos tendões e músculos também podem aparecer.

Prevenção

O ideal é evitar o parasita (carrapato). Recomenda-se ainda:

• Uso de protetores tipo Autan®;

Uso de calças compridas e meias durante passeios em florestas e campos;


Aplicação de carrapaticidas em animais. Para cães e gatos existem no mercado produtos específicos que, se aplicados de forma correta por pulverização ou direto na nuca do animal, não oferecem riscos de intoxicação ao mesmo.

Imunização ativa (a passiva não é mais praticada na Alemanha) através de vacinação no esquema de três doses. As duas primeiras com um intervalo de um a dois meses e a terceira após nove até doze meses depois da primeira. Indica-se a vacina para os grupos de risco e o ideal é tomá-la a partir do outono, para na primavera/verão a proteção estar presente. Para pacientes que prefiram uma imunização num esquema mais rápido, pode-se faze-lo em 0-7-21-dias e depois reforço aos 12/18 meses. Assim como no esquema anterior é necessário um reforço (dose única) a cada 3 anos.

 
Mapa de ocorrências e risco de FSME na Alemanha

Ocorrências de FSME na Alemanha - mapa 2015
Legenda: Em amarelo, casos isolados. Em vermelho, é recomendada a vacinação contra FSME devido ao elevado número de casos por ano.


Mapa de ocorrências e risco de FSME na Europa


Mapa de ocorrências de FSME na Europa - 2015
Legenda: Em amarelo, casos isolados. Em vermelho, é recomendada a vacinação contra FSME devido ao elevado número de casos por ano.


Autora: Ute Ritter
Revisão: Lia A.
Imagem placa de aviso: dpa.
Imagens carrapatos: Wikicommons
1a atualização em 04/2012;
2a atualização em 07/2015: inclusão dos mapas. Entre colchetes [ ], notas das revisão.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carrapato
http://www.aerztezeitung.de/docs/2005/04/28/077a0103.asp?cat=/medizin/zeckenstiche
http://www.medizinfo.de/waldundwiese/fsme/start.htm
Robert Koch Institut
Portal Fiocruz
Medicina da USP estuda doença transmitida pelo carrapato
http://www.mass.gov/eohhs/docs/dph/cdc/factsheets/lyme-pt.pdf

Mapas:
Relevo da Alemanha: Wikicommons
Mapas das regiões de risco, sobre Google Maps: Zecken.de. O mapa de ocorrências na Alemanha tem dados do Robert Koch-Institut (RKI), Epi. Bull. 21/2015, Stand: Mai 2015.

Atualidades sobre a Alemanha

Top