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Monitor Formigão movimenta Hamburgo na ginga da Capoeira

Formigao

Diego Vinicius Goulart é um capoeirista que fala de seu trabalho com a mesma paixão com que o realiza. Ele é casado, pai do pequeno Gustavo e mora na cidade de Hamburg há 4 anos. O paulista, nascido na Zona Leste de São Paulo, é monitor de capoeira no TSG Bergedorf, SV Eideltedt e Komet Blanknesse.

Conversar com Diego sobre capoeira é ter uma aula sobre o tema. Difícil é não sair perguntando indefinidamente e no final, resolver praticar o esporte também!

Vamos conhecer um pouquinho sobre o Diego e, claro, aprender um pouco sobre este esporte que de forma tão bonita fala sobre a cultura e história do nosso Brasil.

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Alemanha + Brasil 2013/2014Em parceria com a página Brasileiros-na-Alemanha.com, a Temporada Alemanha+Brasil publicará uma série de entrevistas de brasileiros que trazem consigo grandes histórias sobre a vida na Alemanha.

►Curta a página da Temporada e confira toda quinta-feira uma de nossas entrevistas fresquinha na Fanpage: https://www.facebook.com/alemanha.e.brasil

Esta semana vamos conhecer Diego Goulart, o "Monitor Formigão", que vive em Hamburg há 4 anos.
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BNA: Por que Alemanha?

MONITOR FORMIGÃO: Através de uma amiga minha, que hoje em dia mora na Holanda, conheci minha esposa. Nos casamos e viemos morar na Alemanha.

BNA: Você já sabia falar alemão antes de vir morar aqui?

MONITOR FORMIGÃO: As únicas palavras que aprendi ainda no Brasil foram "Danke" e "Entschuldigung": como aprendi com minha mãe, ter educação é importante independente de onde você esteja. Mas nunca na minha vida pensei em aprender alemão. Sobre o aprendizado... Ainda aprendo e tenho dificuldades até os dias de hoje, mas agradeço aos meus amigos e alunos que estão sempre me corrigindo e ajudando com pronúncias e escrita.

BNA: O que você pensava sobre o país antes de morar aqui? Alguma coisa mudou ou se confirmou na sua forma de ver a Alemanha ou os alemães?

MONITOR FORMIGÃO: Eu nunca tive uma posição concreta sobre a vida fora do Brasil, ouvia muito de amigos falarem sobre preconceitos raciais e que a cultura de outro país dificilmente era aceita dentro da Europa. Mas ignorei tudo e decidi que a melhor forma é realmente vivendo no local e comprovando. Atualmente posso comprovar, morando aqui na cidade de Hamburg, que essa coisa de preconceito racial varia de pessoa a pessoa. Nós no Brasil ou em qualquer lugar também nos deparamos com o preconceito no dia-a-dia. Amo a cidade onde vivo, claro que sem me esquecer de onde vim e o quanto lutei para chegar aonde cheguei. A cidade de Hamburg é conhecida como "multikulti" e me sinto à vontade por estar presente na cultura alemã e ao mesmo tempo ter contato com africanos, turcos, árabes e pessoas de todos os lugares do mundo!
Monitor Formigao

BNA: Capoeira é um esporte conhecido aqui na Alemanha. Os alemães demonstram interesse em praticar ou são apenas curiosos? Você tem muitos alunos alemães?

MONITOR FORMIGÃO:  A capoeira é considerada o esporte que mais divulga a língua do país de origem. Oitenta porcento dos meus alunos são alemães. Tenho também alunos de outras nacionalidades e apenas três brasileiros no grupo (Chuva, Sol e Sossego - apelidos utilizados na capoeira).

BNA: Os alemães se adaptam bem à "ginga" da capoeira?

MONITOR FORMIGÃO: Muitos alunos no começo dizem: "Eu não consigo fazer isso ou aquilo", "Isso é coisa de latino", "só brasileiro tem gingado". Eu paro ao lado dos alunos quando me deparo com situações assim e digo: "Olhe para mim e observe todos os detalhes: tenho dois braços, duas pernas, dois olhos, um nariz e uma boca... Da mesma forma que você!"

Claro que no Brasil somos criados no meio de diferentes ritmos: samba, axé, funk, etc. Isso auxilia bastante na expressão corporal, mas não que isso torne impossível uma pessoa de outra cultura, no nosso caso aqui os alemães, aprenderem ou desnvolverem a expressão corporal.

BNA: Existem campeonatos de capoeira na Alemanha/Europa?

MONITOR FORMIGÃO: Existem muitos workshops de capoeira, tanto aqui na Alemanha como em diversos lugares, não somente na Europa. Ano passado estive na Áustria e na Rússia participando de workshops de capoeira. Infelizmente não posso participar de muitos workshops, afinal desenvolvo o trabalho do meu grupo aqui em Hamburg sozinho.

O Grupo "Filhos de Zambi" está presente no Brasil, Portugal e Alemanha.

BNA: Qual a maior curiosidade dos alemães sobre o esporte? O que eles te perguntam?

MONITOR FORMIGÃO: A maior curiosidade? As dúvidas são diversas. Capoeira é dança ou é luta? Se é uma luta, por que se utiliza os instrumentos? O por quê dos apelidos...

A capoeira nasceu da necessidade do negro (o escravo) em busca da liberdade. O negro praticava a sua luta, porém quando chegava o senhor do engenho ou a cavalaria (polícia) ele disfarçava a luta em uma dança e justamente por isso a introdução dos instrumentos. Os apelidos eram utilizados para que a cavalaria ou senhores do engenho não encontrassem os negros pelo nome: "Quem de vocês aqui é o João?" Ninguém conhecia o tal de João, por causa do uso de um apelido.

Essa tradição é levada até os dias de hoje, onde os alunos em qualquer lugar do mundo recebem os apelidos em português.

Meu apelido é Formigão, dado por um mestre de capoeira, que dizia que eu sempre estava comendo doces... Afinal eu AMO DOCES!!!
Monitor Formigao

BNA: Você conhece ou tem em seu grupo um mestre de capoeira que seja alemão?

MONITOR FORMIGÃO: Mestre de capoeira que não seja brasileiro eu ainda não conheço. Mas tenho entre meus amigos no Facebook um ótimo professor de capoeira “Chris Vaqueiro” que ministra aulas aqui na Alemanha e é alemão. Mas creio que não demore muitos anos para que tenhamos mestres e ótimos educadores do nosso esporte com outras nacionalidades.

BNA: Você sente saudades do Brasil? Pensa em voltar?

MONITOR FORMIGÃO: Saudades, quem não sente??? Minha família é enorme, procuro sempre falar com cada um lá através do Skype ou Facebook. Voltar para viver no Brasil? Não tenho essa pretensão, mas se um dia tiver que voltar definitivo, não vejo problemas. No Brasil eu era bancário, e claro, nunca deixei de praticar a capoeira.

BNA: E a culinária brasileira? O que não pode faltar?

MONITOR FORMIGÃO: Nossa, agora deu água na boca só de lembrar do arroz, feijão e o bife bem temperado feito pela minha avó Jandira (comidinha básica mas é o que mais sinto falta). O pastel de feira com caldo de cana, o suco de milho.

BNA: Você já viveu alguma situação engraçada ou constrangedora que possa contar pra gente?

MONITOR FORMIGÃO: Ahhh, quem disser que nunca viveu, morando fora do país [de origem], é mentira.

Eu sempre fui de ajudar as pessoas. Logo quando cheguei na Alemanha (sem falar nada de alemão, além de "obrigado" [danke] e "desculpa" [entschuldigung]), avistei uma senhora na estação com uma mala de viagem pesada. Ela estava no topo da escada, eu logo pensei: “Vou ajudá-la”!

Apenas apontei para a mala e peguei, e desci os degraus, percebi que a senhora não me acompanhava, mas mesmo assim fui até em baixo com a mala pesada. Ela começou a me xingar de várias coisas (momento bom: em que eu não entendia uma frase! [risos]). Logo percebi que ela tinha acabado de subir as escadas e estava ali parada para descansar. Eu estraguei todo o esforço da senhora, levando a mala novamente para baixo. Claro que educadamente subi com a mala e pedi desculpas.

BNA: Há algo da cultura alemã que você adotou para seu dia-a-dia? O que você mais gosta no país?

MONITOR FORMIGÃO: Uma das coisas que adotei foi sempre avisar antes de visitar alguém. Coisa que no Brasil fazemos espontaneamente! Já passei vergonha de chegar na casa de pessoas e uma pessoa dizer: "mas eu não marquei nada hoje com você!".

O que eu mais gosto é a pontualidade e a sinceridade. A sinceridade às vezes chega a doer, mas é melhor assim.

BNA: Você daria alguma dica para os brasileiros que têm dificuldade de adaptação na Alemanha?

MONITOR FORMIGÃO: Jamais fique o tempo todo dentro de casa, procure conhecer a cidade onde vive, fazer amigos alemães. Ninguém vai se adaptar à sua cultura. Lembre-se: você é quem vem de fora, é você quem deve se adaptar.

BNA: Você curte futebol? Quais seus planos para a Copa do Mundo?

MONITOR FORMIGÃO: Hummm, não sou fã de futebol e não gostava em época de escola quando o professor de Educação Física dizia que os meninos iam jogar bola e as meninas voleibol. Por não gostar do futebol, em 1999 procurei uma academia para ver se algum esporte me interessava.

Planos para a Copa do Mundo? Não... Assistir aos jogos com meus alunos e amigos! Porém permaneço aqui, torcendo para que possamos ter um ótima Copa do Mundo no Brasil.

BNA: Tem algum palpite para a final?

MONITOR FORMIGÃO: Espero, sim, que Brasil conquiste o Hexa. Seria muito interessante ver Brasil e Alemanha na final. Mas prefiro não dar palpite sobre o resultado.

Monitor Formigao


Créditos:

Website:  http://www.hamburg-capoeira.de/

Facebook: https://www.facebook.com/fzcapoeira

Fotos: Monitor Formigão, arquivo pessoal.

Entrevista concedida a Lia Alves para o Brasileiros-na-Alemanha.com, em abril de 2014

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