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Aprendendo o desapego

Para a criança é indiscutivelmente fundamental ter uma relação boa com os pais depois da separação de ambos. Geralmente os filhos continuam morando com as mães e os pais as veem nos finais de semana, dependendo dos acertos feitos em cada família e da flexibilidade de cada um.
Para mim sempre foi muito importante, independente das diferenças que eventualmente existam e persistam com meu ex-companheiro, que a nossa filha tenha contato com ele; que ela o ame, o respeite e receba dele o mesmo em troca. Não temos direitos exclusivos sobre nossos filhos e quanto mais cedo aprendermos isto, melhor será para todos. Adultos rancorosos e amargurados, que nao „digeriram“ a separação, podem acabar se transformando em pais possessivos e vingativos, usando os filhos como armas para castigar o ex-parceiro/a. Graça a   Deus, não é o meu caso, embora confesso que precisei despender muita energia mental e emocional, nestes três dias sem ela para poder aplicar comigo mesma às minhas teorias...
Dar conselhos aos outros é sem dúvida sempre mais fácil e cômodo do que fazer „auto-terapia“, olhando para dentro de si mesmo e  para o próprio nariz. Eles me ligaram para dizer que fizeram boa viagem, já que a „amiga do papai“ mora a trezentos quilômetros da nossa cidade, deixando-me assim mais tranqüila. Aliás, fiz questão de recebê-la aqui em casa, para não ter a estranha sensação de deixar minha filha dormir na casa de uma pessoa estranha, não obstante a companhia do pai. Visita curta, apenas para buscá-la, tempo somente de oferecer algo pra refrescar o calor berlinenense de 35 graus, enfim, cumprir o manual de boas maneiras e educação.

Mas e ai, onde foi o aprendizado? O que foi difícil? O que foi positivo? Em alemão, tem uma expressão que se chama „los lassen“, cujos significados em portugues são: deixar ir, liberar, largar, no sentido emocional que envolve meu texto: desprender.. Aiii gente, às vezes tem um abismo entre o que achamos e sabemos ser o „certo“ e a nossa capacidade de vivenciar o fato, a realidade, cair na „tal“ real. No caso, entender que a minha filha é um indivíduo e  tenho que aceitar que ela esteja bem também na minha ausencia, com outras pessoas, outros hábitos e mentalidades. Quero que nossos laços afetivos sejam para sustentá-la e não amarrá-la a mim em uma dependencia exagerada e, quem sabe, até doentia.

Li algo muito interessante sobre a necessidade de nos tornarmos uma  „mãe desnecessaria“ artigo da Revista Claudia, edição de maio, e fiquei matutando sobre isto; é realmente essencial criarmos os filhos com independencia, preparando-os para o mundo, pois eles somente tem a ganhar com este „modelo“. Para tanto, tive que, não sem muito custo,  inverter qualquer sentimento mesquinho, como ciúme, inveja, raiva do ex- por de repente ter, por exemplo, tanto tempo para programas familiares, onde a figura femenina não tenha sido eu.Não tive ciúme da minha filha se divertindo com eles, mas um pouco de ciúme da situação, de saber que ela estava tendo com outra mulher o que desejou tantas vezes ver entre os pais: momentos  em harmonia e horas de  lazer juntos... A gente até que compreende um monte de coisa, mas como diz uma sábia terapeuta: „compreender não é aceitar..“ E para aceitar temos que enfrentar com nossa sombras, nossas vaidades, a tal fera interior, pensando também, nas implicações mais diretas, tipo, ficar sozinhos, sentir aquele vazio no apartamento, aquela ausência de alguém exigindo atenção, carinho e cuidados. Alías é esta  sensação de solidão, temida e odiada por muitos, que pode complicar todo este processo de despreedimento; seja dos filhos, dos amigos, dos entes queridos em geral. Mas taí meu grande „troféu“ nestes dias de leoa sem filhote, algo positivo, saber que ainda posso me „aturar“ e aproveitar o tempo para tantas outras coisas necessárias e importantes, dentre as quais nao esqueci da principal: cuidar de mim mesma, pois na verdade, estou descobrindo que  nosso único patrimonio nesta vida somos nós mesmos.



Copyrights: Claudia Sampaio
Foto: Claudia Sampaio
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