Creusa in Deutschland
Aeroporto de Lisboa. E lá fiquei, por 7 horas, esperando minha conexão para Frankfurt. Nesta longa passagem pela terra de Marias e Joaquins descobri que o idioma que falamos no Brasil não deveria ser chamado de português. As palavras soavam tão estranhas que eu mal conseguia entender a moça do alto falante, e, por conseqüência, quase perdi meu avião. Mas como Deus (Buda, Senhor, Oxalá, Alá, Rá ou a entidade de sua preferência) não é padrasto e ainda por cima é brasileiro (pelo menos é o que minha mãe sempre diz) consegui embarcar.

Não, fala sééééééééério! O que aquela Tia tava fazendo no meu lugar? E ainda por cima gritando sem parar? Pensei em várias hipóteses: desde a possibilidade dela estar no avião errado até a chance da aeromoça ser amante do marido dela. E se fosse mesmo, será que precisaria de DNA?
Volta, volta, vooooooooolta. Minha imaginação nessas situações trabalha de tal maneira que eu me esqueci de um pequeno detalhe: tinha alguém no meu assento! Na minha janelinha!
Dona Aeromoça percebeu meu sufoco e veio me ajudar. Sufoco = uma pequena mala de bordo, uma sacola de mão e uma bolsa do tamanho de uma mochila. Explicou-me também que a Tia estava no meu lugar porque alguém também estava sentado no lugar dela e "coisa roda vira e coisa roda vem"! Mas como essas mulheres são treinadas para solucionar qualquer tipo de problema, ela me ofereceu o lugar vago ao lado da Tia e eu, que estava cansada de dançar o vira com aquela bagulhada toda na mão, aceitei.
Depois da mega demonstração de como usar o cinto, eu, que tenho língua de tatu, fui puxar assunto com a Tia. E foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Conheci uma portuguesa muito simpática, noveleira e tagarela. E antes que falem que era minha sósia ou cópia genética, digo que não era não. Mas, por incrível que pareça, temos o mesmo nome: Creusa. Lindo, não! Tia Creusa era fã dos atores brasileiros e fez questão de contar quem matou Odete Roitman.
"- Atenção passageiros, favor apertar..."
Quando o piloto começou o discurso, me deu um gelo na barriga. Agora vai ou vai. Não poderia nem rachar, porque eu acabei de me lembrar que esqueci minha cola gruda tudo. Dei tchau pra Tia Creusa e desembarquei bem devagar, porque minha bagagem é sempre a última a sair, típico de quem faz origami com o guarda-roupa e enfia na mala. E desta vez não foi diferente. Carrinho abarrotado, tudo pronto pra correr pro abraço...
- Hvhuhavhuacupu Aussssssssssssssssss! Rhxhoihavhfgvwgv
Não pensem que isto é um erro de digitação. É a exata transcrição do que eu entendi: nada!
- Afe Maria, que deu no povo pra sair correndo desse jeito?
- Ai colega, escuta só: eu não sou Maria, mas vamo dá no pé, porque segundo seu polícia aí falou tem bomba no pedaço.

- Ah, mas tinha que ser agora "Rubinho Pé-de-Chinelo"? Anda meu filho que você tá quase na linha de chegada. Daqui pra bandeirada é um pulo, melhor dizendo, uma acelerada.
Por mais que eu falasse com o carrinho, não tinha jeito. O bicho tava empacado! Só que a doida aqui não viu que o "trem" não andava porque tinha alguém segurando. Podem falar que eu mereço um Dannnnnnnnnn, um Halloo ou Tóin na testa. Mas era o nervosismo da primeira vez. Além do mais, eu era virgem na categoria 'Atentados'. O policial estava lá, como uma parede e não deixava eu passar de jeito nenhum. Por acaso eu tenho cara de terrorista?
- Raiucwkfkhbkmhodavbjspjfnjjsdfj
- O quê? E-u n-ã-o f-a-l-o a-l-e-m-ã-o .
Se ele compreendeu o que eu falei, eu não sei, mas logo Seu Polícia achou uma maneira de fazer-se entender: tirou todas as minhas malas que estavam no carrinho e colocou tudo no chão. Apontou pra minha pequena bagagem e depois pra saída de emergência. E pra complicar, ele começou a falar:
- Ausgang!
- Quem?
- Auuuuuuuuuuuusgang!!!!!!!!!!!!!!!
Ai Creusa, era só o que te faltava. Quem é este raio de Ausgang? Sr. Ausgang ou Sra. Ausgang? Bom, partindo do princípio que Wolfgang é homem, Ausgang também deve ser. Mas, seja como for, o que este homem queria comigo? Será que era algum policial mega-super-importante-poderoso que ia revistar minha mala? Se fosse, então adeus amendoim, carne seca, polvilho, fubá, pitomba, jaca e todas as gostosuras que estavam na minha mala. Já estava preparando até meu discurso prá senhor mega-super-importante-poderoso:

Lá estava eu, tentando entender o que o Seu Policial queria. Resolvi brincar de mímica então. Hum..., vejamos. Mala no chão mais homem não muito simpático segurando o carrinho, apontou pra mala e depois pra saída de emergência. Hummm........ Já sei! Tenho que sair daqui com as malas, mas sem o carrinho, e mostrar tudo por Sr. Ausgang, é isto? Espero estar errada, pois como vou carregar duas malas de aproximadamente 30 kg mais bolsa, bagagem de bordo e sacola com apenas dois braços? Pior: correr o risco de perder toda minha mercearia.
Para o perrengue de Creusa, eu estava quase certa! Agora imaginem vocês que a Creusa aqui tentou carregar tudo sozinha. E nem precisa dizer que eu não consegui.
- Senhora querer ajuda?
- Por favor.
- Policial dizer que não pode levar carrinho. Eu e meu amigo ajuda senhora com bagagem.
E foi com a ajuda desses dois simpáticos rapazes que eu consegui chegar no salão principal do aeroporto. E quanto ao Sr. Ausgang? Bom, observando melhor a sinalização do aeroporto, descobri que o nome dele estava escrito em vários lugares, sempre ao lado da palavra "Exit" (Saída). Preciso explicar mais alguma coisa? Mas, pensando melhor, até que uma dupla sertaneja com o nome de Exit e Ausgang seria um sucesso.
Creusa da Silva.
Texto: "Creusa"
Revisão: Andrea Tonks
Imagens: internet
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